Intercâmbio Danado


nossa equação
O Forró Danado em sua essência preserva o sentido de grupo, e cultiva a alegria e o amor como marcas, e estes valores são difundidos entre todos aqueles que passam ou passarão pelo Forró Danado. Os Encontros também são inevitáveis e foi através de um gratificante encontro entre o mestre João Pipolo e um português estudioso da cultura brasielira, Joel Silva, o Portuga, que o Forró danado vem alçando voos cada vez mais altos.
Desde que se deu o encontro entre o mestre e o futuro aluno, João Pipolo incentivou Joel a administrar uma sede do grupo em sua cidade. Joel, ficou meio receoso a princípio, mas com muita dedicação e o apoio incondicional do mestre tornou possível a primeira sede de um grupo brasileiro na Europa.
E o que acontece quando um sonho se torna realidade? Passampos a sonhor novos sonhos não é mesmo? Pois foi isso que fizeram João Pipolo e Joel Silva, passaram a acalentar o sonho de que a filosofia e a essência do Forró Danado de coesão e união não se perdessem apesar da distância geográfica, por isso investiram em realizar o 1º intercâmbio do Forró Danado.
Segundo o dicionário  intercâmbio significa troca, permuta, relações de Estado para Estado; relações intelectuais de povo a povo ou de praça a praça.
Bem VindaE foi assim que no último dia 03/08 o Forró Danado recebeu não só um mais dois "intercambistas". Carla Crespo, aluna do Forró Danado Porto foi a primeira a chegar, foi recebida com flores e um cartão de boas vindas do mestre Pipolo. a visita de Carla foi programada e planejada com alguns meses de antecedência e todos estavam com muita expectativa para conhecer a colega lusitana. Mais tarde, desembarcou o dançarino carioca Bruno Vieira do Prado, do Centro de Dança Alex de Carvalho (CDAC), refrência na dança de salão no Rio de Janeiro. Ambos foram hospedados pela aluna Dayane Lima, que carinhosamente ofereceu sua casa para que os dois visitantes pudessem estar mais à vontade.
Pouco tempo após sua chegada Carla foi recebida com festa na sede de Pernambués, onde os alunos lhe prepararam uma surpresa. Como Bruno só desembarcou na madrugada não pode conhecer a sede de Pernambués.
Antes de continuar a contar como foi a estadia deles em terras soteropolitanas, vale apresentar os "intercambistas" e explicar o que os trouxe para longe de casa.
Bruno Bruno Vieira do Prado é carioca e filho de mãe pernambucana e pai cearense, por este motivo o forró sempre esteve presente em sua vida. "Fui nascido e criado ouvindo forró" diz. Matriculou-se numa escola de dança de salão, (CDAC), e dentro do aprendizado identificou-se com o forró "pelo ritmo,pela cultura, por ser brasileiro, pela família, pelas músicas..."  enumera Bruno, que dança há três anos. No ano passado Bruno esteve no Congresso Nacional de Forró que aconteceu em Brasília, vivenciou uma competição nacional de forró e decidiu competir neste ano. para isso, começou uma rotina de treinos, ensaios e pesquisa.
"Eu pesquiso muito o forró lá no Rio, porém na minha escola apesar de o pessoal dançar muito bem, o forró não é o forte, então eu pesquiso muito com outros profissionais do Rio de Janeiro também, mas não me satisfez estudar o forró apenas no Rio de Janeiro."
Foi nesta pesquisa que Bruno conheceu o Forró Danado. Marquinhos do Forró, renomado professor radicado no Rio de Janeiro promoveu em maio deste ano um Workshop Carioca de Forró Pé de Serra e convidou o mestre João Pipolo para ministrar duas aulas no evento. Ao tomar conhecimento do convite Bruno foi procurar saber quem era este professor da Bahia e porque ele havia sido escolhido pelo Marquinhos do Forró dentre tantos nomes. Os vídeos postados no Youtube deram a Bruno uma idéia do que é o Forró Danado, mas foi efetivamente nas aulas ministradas por João Pipolo no Rio de Janeiro que Bruno percebeu quem poderia ajudá-lo na preparação técnica para o campeonato.
Em busca da técnica com a anfitriã Danados
"Eu achei o Forró Danado um diferencial dentro de tudo que eu conheço. Os movimentos, os passos, o carisma, tudo isso me fez decidir sair do Rio" Justifica Bruno que veio a Salvador conhecer mais de perto a técnica e aprender um pouco mais sobre forró com João Pipolo e seus alunos.
Foram apenas quatro dias de estadia, mas Bruno não perdeu o foco. Não quis fazer passeios de caráter turísticos, se atendo apenas às aulas e as festas em que pudesse cumprir com seu objetivo de aprender e praticar.
"Apesar de ser pouco tempo, gostei muito do que fiz. Deu pra vivenciar de perto todo o esquema, toda a dança do Forró Danado, em aulas, bailes e no dia a dia. Expectativas mais do que cumpridas, foi acima do que pensei. Deu pra pegar muita coisa, agora é só estudar direitinho. Quero voltar um dia para poder aperfeiçoar mais um pouquinho." completa o dançarino.
Simões Filho

"Ele escolher Salvador, ele escolher o Forró Danado dentre tantos grupos de forró para se aperfeiçoar significa que o Forró danado está no caminho certo, tanto técnico quanto filosófico. É o grupo que pode doar uma gama maior de técnicas específicas dentro de todos os ritmos específicos do forró" avalia o João Pipolo
CCarla e mestre Pipoloarla Crespo é Portuguesa mas conheceu o forró na Nova Zelândia, onde viveu por trê anos e conviveu com a comunidade brasileira de lá. "eu ia as festas e eles dançavam muito forró, e eu experimentei um pouquinho,até que em dezembro eu estive no Rio de Janeiro e uns amigos me levaram ao Lapa 40º e percebi que não sabia dançar forró. de volta ao Porto uma amiga me deu um flyer de um workshop de forró e era Joel, era o Forró Danado. eu gostei da didática e continuei e vou todos os sábados, o clima da aula é muito bom." explica.
Carla começou as aulas no Porto em Janeiro deste ano, e como já havia vindo ao Brasil e demonstrou interesse em voltar e conhecer Salvador e os colegas brasileiros do Forró Danado, tornou-se a primeira aluna de intercâmbio no Forró Danado.  "isso foi mágico. Foi uma benção e agora que estou aqui é tão bom estar no meio destas pessoas e ser recebida como elemento do mesmo grupo, eu não estava a espera e está a ser muito enriquecidor." diz.
Os dois têm em João Pipolo uma referência, um espelho de técnica, de profissional e dançarino. E vieram a Salvador beber dessa fonte. A e programação dos visitantes contou com um almoço seguido de um proveitoso debate sobre o que é forró e a importância de se conhecer a fundo a origem do ritmo e sua cultura e as formas que este conhecimento ou a falta dele influenciam na dança. Os dois participaram de forma efetiva de todas as aulas do grupo além de prestigiar dois diferentes shows, um de maior porte, o Bebo Sim, realizado pela banda de forró, parceira do Forró Danado, a Massapê, realizado no Coliseu do Forró, tradicional casa que acolhe os forrozeiros em Salvador e no dia seguinte no Sertão Bom, um restaurante temático, que conta com a apresentação ao vivo de autênticos trios nordestinos num ambiente totalmente decorado como uma casa sertaneja. Nesta oportunidade os “intercambistas” tiveram a chance de se deliciar com a tradicional comida do sertão nordestino e conhecer alguns músicos tradicionais do forró, como Freitas Santana, Diego Batera, Esquerdinha (do trio Lobos do Forró), Zé Lemos do acordeon e Genivaldo Zabumbeiro. Foi nesta ocasião também que Carla presenciou o que ela diz ser um dos momentos mais bonitos da sua estadia:
“Lá no jantar eu reparei nos senhores mais velhos a dançar, que momento bonito, aquele dançar miudinho, aquele ar de felicidade na cara deles, foi um dos momentos em que eu estava quase com lágrimas nos olhos. Eu achei bonito porque faz parte da vida das pessoas, não é só uma coisa que se faz quando se é novo e se quer ir aos bailes, o forró faz parte da vida daquele casal que estava ali” constata.
Encontro com a tradição
A partir deste olhar “estrangeiro” de Carla, essa percepção tão sensível da essência do forró, por alguém que não traz isso no sangue, nem nas histórias dos ancestrais, demonstra o quanto a origem do ritmo está intimamente ligada à qualidade da dança que se apresenta. Com este comentário Carla demonstra que o intercâmbio se deu com sucesso, pois ela vivenciou de perto o que ouvia o professor Joel contar, agora é algo próximo. "Agora estou a criar uma história aqui que é minha." Para o professor João Pipolo nesta ocasião Carla viveu de perto tanto da perspectiva arquitetônica quanto da questão humana do forró, física, material do forró. “isso me deixa muito feliz. Saber que o Forró Danado está atravessando cada vez mais as barreiras do necessário para existir, hoje essa perspectiva cresce e se desenvolve para algo além das fronteiras.” Ressalta o professor.
Sobre a experiência o mestre João Pipolo observa: "Por mais que ela (Carla) tivesse idealizado, se ela não tivesse um local para ficar talvez ela não tivesse vindo. O Intercâmbio se dá através disso, ideal X receptividade. Falar em intercâmbio dentro do Forró Danado é a partir da ideia de que alunos possam receber alunos, participar da família, para que assim conheça os fluidos culturais, estar a par dos acontecimentos do grupo, sejam eles de ordem social, cultural ou da realidade técnica."
Na programação houve ainda uma tarde de conversa e dança num agradável encontro entre os alunos do Forró Danado, apelidado pelo mestre Pipolo de Domingorró, era o último dia de Bruno em Salvador e ele deixou um recado aos novos amigos:
"agradeço a vocês por tudo. Conheci duas sedes, fui às aulas, gostei muito da hospitalidade, deram a maior atenção. Gratificante, tanto nas aulas, nas conversas, passeando na rua... É bastante motivador pra mim perceber que está começando da maneira correta e o futuro pode ser brilhante e bastante promissor."
Bruno retornou ao Rio de Janeiro para continuar seus estudos e ensaios para o cameponato de forró que acontece em outubro, e leva com ele toda a torcida dos Danados.
Carla passou ainda mais dois dias na cidade e foi conhecer o que a Bahia tem, esteve no Pelourinho, onde se encantou com a Fundação Casa de Jorge Amado, desceu o Elevador Lacerda, visitou o Mercado Modelo e o Porto de Salvador, conheceu repentistas e literatura de Cordel, esteve no Porto da Barra e viu a cruz de malta, símbolo do descobrimento, conheceu o Farol da Barra e provou do acarajé e depois de tudo isso ainda conferiu a última aula de sua estadia.
Salvador
"Levo pessoas na minha vida e no meu coração. Eu gostode aprender com pessoas, esse contato com todas as pessoas que tirararam um tempo para me ensinar, pra dançar comigo... Dançando com João eu disse: isto é um privilégio, estar a dançar contigo, me sinto uma privilegiada. Acho que isto me foi dado, não sinto como uma conquista minha, mas ao mesmo tempo sou muito agradecida e com muita vontade de conhecer mais um pouco também, levo um pouco da identidade do grupo." avalia Carla
Para Dayane Lima receber os visitantes "foi uma experiência maravilhosa" Num dos workshops ministrados por Dayane em portugal surgiu o convite para que Carla se hospedasse em sua casa na sua já planejada viagem a Salvador, caracterizando assim o intercâmbio. "Por coincidencia o Bruno marcou a viagem para o mesmo dia que a Carla. Fiquei muito feliz porque é como se fosse o resultado das duas vigens que fizemos esse ano. Foi muito importante pra mim, aprendi muito com o Bruno ele tem muito a ensinar. A Carla com sua maneira de ser.. Essa experiência só fortaleceu ainda mais os laços que já haviam se criado." diz.
"Intercambiar significa entregar ao outro um pouco do seu. Significa acima de tudo compartilhar a sua pequena porcentagem com o todo, tornar o outro parte do seu mundo." A partir desta definição do mestre João Pipolo concluímos que o 1º intercâmbio do Forró Danado, que contou com não apenas um, mas dois participantes, foi um sucesso e pelos depoimentos dos "intercambistas" eles levam daqui um tanto do Forró Danado e deixam conosco um bom bocado de si.

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